Estou a tentar esquecer o que senti naquele momento.
A vergonha e a humilhação. O ódio e a raiva que senti de ti. Pelo que fizeste, disseste e sobretudo pela forma infantil como lidaste com a situação dali para a frente. Vi os nossos problemas nos olhares de toda a gente que nos rodeava, vi pena.
E só alguns sabem como odeio que sintam pena de mim. Fizeste-me dar espectáculo. Fizeste-me expor as nossas fragilidades aos olhos de quem nada tem a ver com isso.
Odiei-te à primeira vez, à segunda e à terceira já só tinha pena de ti.
Estou a tentar esquecer, juro. Mas não estou a conseguir. Não estou a conseguir. Uma máquina de escrever de 1945, um jantar e uma noite num Hotel de luxo no centro da cidade não contribuíram nada para me ajudar a esquecer.
O post anterior surgiu porque mais uma vez uma nova colega de trabalho me perguntou a minha idade. «Que idade me dás?», perguntei, já expectante. «33 ou 34 para aí».
Não vou comentar, mas vou repetir o que ouvi depois de dizer qual a minha verdadeira idade:
Entrei a correr no autocarro, a caminho do trabalho. Perguntei a um senhor que estava sentado nos lugares prioritários se aquele era o 709. «É sim, menina!», respondeu prontamente. Na ausência de lugares disponíveis, fiquei em pé. Poucos segundos depois, volta-se para mim e pergunta: «A menina não se quer sentar?».
Respondi que não, pois aqueles são lugares prioritários. «Mas a menina nesse estado não pode ir em pé! Ainda por cima já com alguns meses de gravidez!»Fiquei azul, cor-de-rosa e de tantas outras cores. Embaraçada, não consegui dissuadi-lo da minha suposta gravidez. «Não, deixe estar. Gravidez não é doença», disse, já muito envergonhada.
Tempos depois, num almoço de trabalho com vários jornalistas em Aveiro, iniciou-se uma conversa sobre idades. «Tu tens para aí 32 anos, certo?», perguntou-me uma jornalista. Mesmo ciente de que a minha idade iria provocar algum espanto, decidi arriscar. As minhas expectativas foram correspondidas. Entre a surpresa e o desconforto, lá ouvi uns quantos comentários. «Não pareces nada! Pareces mais adulta, mas isso é bom.»
Aos olhos de muitas novas pessoas que conheço, tenho mais de 30 anos e estou grávida. A parte da gravidez resolve-se com uma dieta. Mas nunca percebi porque pareço mais velha e o que posso fazer para deixar de parecer…
Nos meus tempos de faculdade sentia-me algo impelida a fazer parte da tuna, da comissão de praxe e afins. Simplesmente porque sem isso parece que não temos vida académica. Mas o que raio é isso de vida académica?
Instaurou-se a ideia errada de que a verdadeira academia é copos, companheirismo e praxes. É pandeiretas e cantorias, danças e saltos regados a cerveja! Eu pensava que sim. Mas não.
A academia de verdade, e aquela pela qual eu gostaria de ter passado, é competitiva e maçuda. É companheira nas lutas para fazer o melhor trabalho de grupo da turma, mesmo o melhor da escola. A academia pela qual eu gostaria de ter passado é de noites a fio a discutir o melhor caminho, a engendrar soluções para problemas que ainda não existem, é de desafios entusiasmantes e concorrência saudável. É uma academia mais próxima das antigas, feita de festas para descomprimir do estudo, e não de estudo para passar à rasca. É uma academia que me ensina a vingar cá fora. No mundo real, em que tunas e praxes são apenas brincadeiras de miúdos.
Senti falta dos cafezinhos, dos risos, das pausas para a quinta do Facebook (a minha está ao abandono), dos almoços virados para o trânsito da 2ª Circular (a sério, senti mesmo).
Mas não senti falta nenhuma da música repetitiva e ridícula da Rádio Cidade e da Mega FM. Como é que é possível alguém gostar disto? Faz-me doer os ouvidos e a cabeça.
Está perdida entre a Venda de Cima, a Venda do Meio e a Venda de Baixo. É branca e baixa. Não tem água quente, à excepção da que se deixa ao sol. Por fora é firme, mas por dentro dá a sensação de que por lá passou um vendaval. Tem histórias de muitas gerações e eu tenho muita vontade de a conhecer.
Não conhecia nada. Ia de espírito limpo, sem razão para gostar nem razão para desgostar. O mais a norte em que já estive foi em Fafe, e festival de Verão sempre teve um nome: Sudoeste. Achamos sempre que a nossa casa é a mais bonita até vermos a do vizinho e… Paredes de Coura é a casa do vizinho.
Passo a explicar porque é que Paredes de Coura, enquanto festival, mete o Sudoeste a um canto:
1. Falta de pitas. Há lá uma ou outra que foi para representar a classe, mas nada de especial; 2. Menos gente. Paredes de Coura não sofre do mal do Sudoeste de lá ir parar tudo o que é maralha simplesmente porque si. Aquilo é longe demais. E a maralha é preguiçosa como se sabe; 3. Mais pessoas da aldeia. Eles andavam sempre por lá, nas mesmas mesas, nos mesmos cafés, a beber a sua cerveja às 18h da tarde como qualquer um de nós. Convive-se sem atritos e no puro respeito pela paisagem. Lindíssima por sinal; 4. O palco. Para pessoas de pequena estatura como eu, a localização do palco determina tudo. Determina se vemos as costas do vizinho da frente ou a banda. No Sudoeste limitava-me a ouvir a olhar para as costas do vizinho ou então ia para a frente nos concertos mais ignorados pelo comum festivaleiro, como Nitin Sawhney no ano passado. Em Paredes, tudo foi diferente. O palco está no meio de um vale, que forma um anfiteatro natural. Estava distante e consegui ver tudo. 5. Dormir. Quem já passou pelo Sudoeste, ou melhor pelo campismo do Sudoeste, sabe que a partir das 8h não se consegue dormir dentro das tendas. Em Paredes… o campismo é mesmo no meio da mata, além daquela não ser uma zona muito quente, há sempre sombrinha. Acordei depois da 13h tarde.
Eu não estou a evangelizar Paredes de Coura. É só porque aquilo é muito bom.