sábado, 1 de maio de 2010

Café em Lisboa

Dá-me um prazer desmesurado passar horas num café sozinha.

A ouvir e sentir. Os passos, as cadeiras a arrastar, as conversas. Sobretudo as conversas. Sou bisbilhoteira. Sempre o assumi, sem ponta de vergonha. Por isso, gosto de ouvir a conversa dos outros, observá-los. Nem sempre para tecer comentários mais ou menos positivos sobre as mesmas. Mais para saber, e sentir. Sentir conversas, descobrir-lhes os encantos, as origens.

Lembro-me de em criança ficar muito intrigada com a forma como as pessoas começam a conversar.

Pela mão da minha avó, percorria caminhos desconhecidos todos os dias, sempre ao encontro de uma amiga, de uma vizinha, de alguém que passava. Dali a pouco, já se conversava animadamente sobre qualquer coisa. E isso intrigava-me. «Porque raio começam as pessoas a conversar? Como o fazem?», perguntava.

Ainda hoje isso acontece. Já não me questiono tanto porque conversam. Já tenho como certa a necessidade de comunicação verbal, mas não deixa de me deslumbrar os trilhos das conversas. Que caminhos percorrem, de onde vêm e para onde vão? Algum dia chegam ao fim? As conversas.


Café em Lisboa, 19h do dia 1 de Maio

«O que interessa é a relação entre os conceitos. Não interessa a matéria, estás a ver? O que interessa é a relação entre o todo e as partes», disse a rapariga de amarelo, muito assertivamente, na mesa do canto.

«E o que é isso me diz?», pergunta a amiga de branco, levantando o sobrolho.

«Não diz nada, é mesmo assim... (silêncio). Isto depois é uma proposição analítica.», conclui.

Aqui discute-se a filosofia de David Hume.

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